quarta-feira, fevereiro 23, 2005

Para aqueles que sempre ficam...

Vejo espelhadas nestes tempos intermédios as mais minúsculas lacunas da máquina da hematose. Quilos de clorofila esverdeando as mais brancas folhas, sem quadrados, sem linhas, dão pernas aos seres, debatem-se na busca das luzes baças que vão sobrando, perdidas, nos pisos sem mosaicos. São derretidos laços, fundidos outros. Nenhuma pegada ficou esquecida nas dunas; talvez uma ou outra, cuja importância se fica pelos odiosos e típicos "Tudo Bem?". Não se racionalizam forças porque a força não racionaliza o coração; por outro lado, quebra-o e racha-o, cortando-o em lascas ou esperando pela erosão. Não será verdade que a alma é pequena e que tem máximo de lotação. O músculo estica pelo infinito, não há limite de abertura. Mas não há clorofila suficiente que esverdeie tanta folha, e que dê membros e asas e olhos de ver, olhos abertos vidrados numa verdade bem mais completa e absoluta: resistem e persistem, e sempre o farão, aquelas gentes de povos que nunca morrem...

quinta-feira, fevereiro 17, 2005

Quando tu não estás durmo de peúgas...

quarta-feira, fevereiro 09, 2005

Cornucópia

Vi o céu aos cubos, de arestas bicudas. Pássaros, pássaros, bandos de penas cinzentas, olhos cinzentos, verdes-cinzentos. Vi as nuvens, ora azuis, ora cinzentas, cinzentas de massa, compactas ou mais vagas, finas de algodão, cinzentas em fios ou ovelhas e carneiros, cinzentos pretos, focinhos brancos e cinzentos, roxos-cinzentos. A música das gotas, pouco cinzentas, muito gordas, transparentes gotas, chuva de cerejas, vermelhas de pernil verde, cerejas transparentes. E as estrelas, cinzentas azuis, verdes, pretas cinzentas brancas, roxas roxas, de pernil verde, estrelas transparentes, estaladiças e frescas, quentes, lume na pele, carimbo nas costas, cinzentas, não-cinzentas, costas e gotas, ovelhas lanzudinhas, gordinhas. E pretas, montadas nas estrelas, atravessam as nuvens, nem tanto azuis, nem tão pouco cinzentas, mergulham em penas e os cubos são cubos e as arestas bicudas, limadas, quiçá, por bocados de algodão-cereja.