sábado, março 26, 2005

Da varanda para oeste brotam bocados desse sindrome de vazio acalentado pela ausência de um outro. Um outro que, por vezes, se confunde nos ombros e nas costas, e cuja alma transmigra e se reflecte em cada passo, da pele ao epicentro, correndo em gotas pelo corpo. Imaginam-se sorrisos, marcando este ou aquele momento em que o corpo se encontra isolado mas o coração não. O calendário coça-se e espirra; é alérgico ao ontem, muito mais ao amanhã. E daí esta inércia, este marasmo e os dias não passam ritmados, os minutos mordiscam os dedos e estes folheiam, com pressa, versículos heréticos e folhas nuas, e correm, sentindo em sintonia esta falta de algo. A vida emerge ao longe. E do longe ao aqui palmilha serras e mares; planícies de gente palmilha a única verdade que não mata mas afoga: a saudade.

quarta-feira, março 09, 2005

Os olhos e os dedos

Se para dentro se viram os olhos quando na alma escorrega e se espalha a vida, assim se vira e chove, para fora, esse sal acumulado não se sabe bem onde. Certos gestos ficam-se por discretos ensaios, pouco perceptíveis. Mas a vontade fica-se pelos meios, a pele ruboriza. Os dedos teclam algarismos memorizados: codificam e descodificam, entre algumas metáforas e uma afirmação mais arriscada e séria, aquilo que se adivinha mas teme, de tão arriscado e sério que é. Não sei em que furo se colocarão as verdades ou até que ponto serão legítimas. Tanto o que se fala mas tão pouco o que se escuta! Porque escutar corrói os ouvidos, desfragmenta a cartilagem e desfaz todo o aparelho! Mas os olhos, esses, são testemunhas de grandes doses de letras, verdadeiras ou não muito, letras em forma de palavras que, arriscada e seriamente, vão revelando uns enigmas, dissimulando outros, e as teclas ganham voz, mentem, mentem tanto e choram porque dizem o que não sentem e arrependem-se e choram porque o que dizem não faz nenhum sentido...