Não me espantaria se o inverso fosse o meu avesso...
segunda-feira, novembro 17, 2008
reminiscência
Quanto mais tempo vais tentar tu durar? Quantos mais dias irás tu tentar permanecer indomável, fria, diferente, indiferente? És um mutante! És o produto inacabado da misantropia das bestas, dos renegados, dos náufragos! És o claustro e a liberdade vistos de baixo! És a praga, a peste, o inferno! És a monumental enxaqueca que habita nas cabeças dos perfeitos! És o gato preto de irmãos brancos, és a certeza da existência da pedra no sapato! És a sociedade abissal, és o aneurisma, o anormal! Enterrem este osso!
"Conhecemos apenas uma pequena fracção da história do homem sobre a terra. É um inventário longo, enfadonho, doloroso, de transformações catastróficas que em alguns casos provocaram o desaparecimento de continentes inteiros. Contamos esta história como se o homem fosse uma vítima inocente, um participante desamparado, sem culpas das revoluções erráticas e imprevisíveis da natureza. Talvez o tenha sido no passado, mas não o é agora. Tudo o que acontece hoje na Terra constitui obra dos homens. O homem demonstrou que é senhor de tudo - excepto da sua própria natureza. Atingiu o grau de consciência que não lhe permite já mentir a si mesmo. Se ontem era uma criança inocente, fruto da natureza, actualmente é uma criatura responsável. A destruição é agora propositada, originada por ele. Estamos no nodo: podemos avançar ou regredir. Temos ainda a possibilidade de escolher. Amanhã talvez não. É por nos recusarmos a escolher que nos sentimos cheio de culpa, todos nós, aqueles que desencadearam a guerra e os outros. Estamos todos possuídos por uma fúria assassina. Desprezamo-nos uns aos outros. Odiamos o que vemos, o nosso rosto, quando fixamos os olhos em outrem.
Qual a palavra mágica própria de um momento como este? Paz? Coragem? Paciência? Fé? Nenhuma destas palavras já serve, receio. Gastámo-las pronunciando-as sem lhes atribuirmos um sentido. Para que servem as palavras se o espírito que está por detrás delas se encontra ausente?
Todas as nossas palavras estão mortas. A magia está morta. Deus está morto. Os cadáveres empilham-se em torno de nós. Muito em breve impedirão que os rios corram, encherão os mares, inundarão os vales e as planícies. Talvez só no deserto seja o homem capaz de respirar sem ser asfixiado pelo fedor da morte."