sábado, abril 24, 2010

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a casa abandonada de postigos pendentes
onde se deitam os okupas
e se deleitam, intermitentes

reservado o direito de admissão
a entrada forçada
e um peito de salvação aguardado

o lar enegrecido e já queimado
todos visitam ninguém permanece
de tão emudecido apocopado armilar

a renda exacerbada na bolsa
cotada entrecortada e tão tão elevada
bolça a alma e rende o corpo

nada, na verdade, rima
ou ritma
despir e tricotar o léxico
como o fazem casas e prédios
camas lacónicas mas substanciais
como só o abandono voluntário faz
ou a fuga
a espuma dos dias tecida a barrigas e dedos
nada o faz genuinamente
tão vomitado e tão quente
[quase até desprezando adverbialmente]
as frases
os poemas
os rios e as margens
como o faz esse edifício
onde ninguém habita
tempo suficiente
para aproveitar os alicerces bem-fadados
e deixar, restaurados
os muros
as portas
os quartos desenquadrados