sábado, junho 12, 2010

k. maurício não via o cifrão

a minha vontade então era pregar bem alto a alguns imaginativos que tomem a vida a sério, se não quiserem ser despedaçados como ele: - não sonhem, vivam! reparem que a existência atrás da quimera, sem querer ver as pedras do caminho, fê-lo morrer, depois de uma vida de casas de hóspedes, de vadiagem e de dor. a vida é dura, a vida não se fez para sonhar; para triunfar é necessário bater os lados sem ver quem vem, agarrar-se a gente com sofreguidão, morder... ai os vencidos! pobres dos que hesitam um instante! auxiliar alguém é perder tempo: prá frente! prá frente!... fora o sonho! para que é que em pequenos nos mentem e nos dizem que há amigos e afeições?... entra a gente na vida com ilusões, que só se perdem em pedaços de alma, quando muito melhor seria dizer-nos que há unicamente o dinheiro. dinheiro! - esta palavra faz vibrar os mais moles: gadanhos convulsos estendem-se ávidos, os olhares ferem como lâminas... para que andamos a mentir uns aos outros, quando nos sentimos todos, aos trinta anos, capazes de sacrificar um irmão ao interesse?...

raúl brandão - a morte do palhaço e o mistério da árvore