quarta-feira, fevereiro 27, 2008

dois cigarros sugam-me a solidão na banheira e sagaz atreve-se à invocação aos inanes a bruta e indecisa iniciativa do sabonete
espera-te a indefinida arte de coleccionar ossos, sra. X, desmonta e empilha o entulho, os despojos ao centro e uma sem-fim compilação de outros que tais na algibeira!
acho por bem precaver quem cá vem de que não muito certo é o ritmo que define a companhia:

ora é dia ora é noite ora nem se percebe muito bem

o epítome não permite dúvidas: deixa que te esfregue as costas, sra. X, permite-me que tenha a gentileza e o-prazer-é-todo-meu de te proporcionar uma lavagem completa, com direito a trincas nos ombros e territórios anexos e um bónus de fidelidade que nem-tão-somente inclui toda a verdade que resta da espécie humana ou, pelo menos, deste espécime que te escreve

o amor em estado líquido e uma abrangência que te permite, se assim o desejares, movimentar todo um saldo orgânico. Ser-te-á, como é óbvio, restituída toda a liberdade de me enxotares porta fora assim que o produto entrar em putrefacção

é-me incomensuravelmente complexa, não obstante, a tarefa de te detalhar os fusos e os eixos por que se move esta nossa esfera energética de trocas sucessivas e bastante bem sucedidas de pedaços-de-maus-caminhos

sei-nos duas como poderíamos ser muitas mais se a tal nos permitisse a orientação. Mas só a ti proponho esta rota pecaminosa de te fornecer, lancetado, o coração que se me brota do peito esquerdo, sra. X, só a ti porque só tu me permitis a leviandade de te amar esperando que me ames também

reconheço não ser nada-pobre-a-pedir mas tolera-me a audácia de o fazer quando a conjectura não vem acompanhada ou só mais ou menos da sua esperada componente cognitiva

amo-te aos molhos, sra. X, a ti e somente a ti que recebes em dedos esta epístola de bradar aos céus

colemos as peles e fechemos e fendamos vezes e vezes sem conta os bocadinhos que isolados não fazem muito sentido. espera ansiosamente ou não muito o invólucro em correio-postal que te será comodamente entregue em mãos na tua residência ou, se preferires, num confronto corporal a meio da 5 de Outubro; o que te mais aprouver, conquanto se me coles meia-dúzia de estampilhas salivadas nos pontos estratégicos do febril estado em que me encontro e do qual não sei como sair

nem quero, relembro-te, se derivado ao factor tempo te escapar a lembrança

como não me surge modo algum de encerrar a escritura, coloco um ponto (.) no que substancialmente se adivinham umas reticências (...), como, mais de resto, pareceu-me ler seu algures.