sábado, abril 09, 2005

Letras

Quase que me irritam estes não haver mais o que se dizer! Abundam mas são latos e tão depressa chegam como depressa partem, em ciclos de hábitos que vão surgindo, ora dando vida e criando e abrindo caminhos e rumos, ora devolvendo à terra a parte incompleta mas terminada da convivência mais sarcástica e cínica dos seres. Por ti tento e luto para que entendas que certas letras não o são somente: além de caligrafia ou saliva, são esquissos fiéis das horas em que não estás, dos espaços que não ocupas, das ideias que não conheces. Insistes em mostrar que o ser-se céptico é virtude e eu escavo e procuro no âmbar os restos da eutopia... e também eu insisto em mostrar-te, só a ti, que o que há para dizer transborda, que é tanto e tão gordo que se escapa por cada poro mas não se perde; em suor e lágrimas te vou berrando aquilo a que fechas os olhos mas a que abres as mãos. E entretanto vou esperando, sentada na janela e de pés no telhado, pela hora em que chegarás, pelos espaços e ideias que se querem partilhados, por todas aquelas minhas letras que querem um caminho e um rumo, um mar onde desaguar...