quarta-feira, setembro 27, 2006

Poderia dizer-te...

que se não estiveres eu também não estou
que adoro o que a infância te fez ao queixo
que cheiras a mar e a bolhas de sabão
que o verde te fica muito bem
que guardo as tuas camisolas por lavar
que tens um sinal particularmente irritante
que deixas o oceano entranhado nas minhas almofadas
que quando bebes ficas especialmente abraçável
que quando sonho contigo acordo com borboletas no nariz
que não tem piada gabar-te o estio que carregas nos olhos
que há coisas que poderias tapar só mais aquele bocadinho
que o teu umbigo chora todas as noites
que me passo gravemente com os teus pés gelados
que o tempo que demoras é sempre demasiado
que nunca tenho coragem de te acordar
que tem dias que só tenho ânsias de te espancar
que quando choras me derretes o coração
que tens mesmo dentinhos de bicho
que transpiras uma enervante fotogenia
que se fosses uma cereja passeava-te o dia inteiro na boca
que tens as melhores ideias do mundo
que se fosses uma nota musical serias um sol
que já não saía daqui se resolvesse continuar...

mas não te digo nada para não ficares com a mania.

segunda-feira, setembro 25, 2006

O teu corpo é um braço de mar recitando em sal menor a manhã menos inerte.
Rompi talvez o pacto que detinha com uma artéria ou duas, na fluidez do que alma permite ao papel. A disfunção deve-se ao resto, ao palpável e enquadrável na meia-luz. Essa, a tal, a mesma luz que se manifesta mas passa ao lado e não importa e tão pouco é sinal de uma súbita e potencial timidez.
Esqueço-me a quantas ando, se evoluo, se regulo esquemas ou se fomento, permito, manifesto aquilo que é já indissociável do pulsar latente.
Da respiração. Inspiração. Expiração. Hábitos.
Rotina.
Mas a coisa já nem se dá.
Já não flui. ("Porque não flui?")
Porque tu não deixas. A tua imagem ocupa todo o perímetro mental de onde, numa previsão sem fundamento ou base sustentável, adivinho letras sufocadas e reprimidas tentando escapar à claustrofóbica embalagem em que outrora foram liquidas como num dia qualquer.
Mas não como hoje.
Agora já não.
Não porque a ausência que o odor expande corta as asas dos caracteres. E marca-te em sal e notas de música apática, recortada, desmedida, envergonhada, desordenada num compasso fora d'horas.

segunda-feira, setembro 11, 2006

Há amor que nunca se estende.
E há amor que ninguém entende.