sexta-feira, junho 24, 2005

Quinta-feira

O hoje matou o resto... no intercalar cala-se-me a voz, os olhos cegam, os ouvidos colam, o nariz perde-se nos inodoros sentidos, a pele vinga-te na dormência das horas. Pouco sentirás... ou pouco mais que pouco se te cega a voz como se cola a tua boca e os ouvidos se perdem e o nariz que se cala, dormente, num não sentir mais profundo que um qualquer dedo numa qualquer tecla, síndrome de quem espera por um ridículo passar de dias, como se o relógio congelasse nos indefinidos momentos de maior inércia vertical...

quarta-feira, junho 22, 2005

Não sei...

Bato-me (juro que sim!) contra eventuais potenciais sentimentos de dificil definição. Defini-los será fraco e agressivo, utópico dos chás que criam e recriam curas para tudo; ainda mais na subjecção de quem sente porque sente e, por muito que transpire, não entende ao certo o porquê. Inventa-me, insisto, uma zona de pseudo-aborrecimento, onde o dia seguinte seja a cópia do hoje, em que a surpresa fique presa onde ela bem quiser, se tanto o deseja (eu espero que sim...). Enquanto tu, indefinição, continuares a morder-me o lóbulo, acreditarei que tudo faz sentido, que é possivel sentir sem que a razão seja chamada a depor, sem que as palavras encurtem e sufoquem o sopro interno. Se distancio e te escondo, acreditando que também tu cais nessa de que tudo é fácil, que tão pouco te sinto e a ela... custa mas resulta, e por muitas letras que cuspa, parece em vão tal audácia, tal mostrar o que se tem e o que já se não tem porque, superando-me, esse ignorar constante do que corre dos pés à cabeça é mais rubor e suor e terror de que um dia tudo se revolva e que no lugar do vazio se plante, em rasos canteiros, qualquer bolbo que adivinhe um dia mais azul.

quarta-feira, junho 08, 2005

Fendai-vos...

Nunca o coração se traiu tanto! A base dos braços, ora abertos, ora fechados e lingua nem sei onde (quente e vã perdura naquela parte do cérebro que não esquece aquilo que nunca existiu), rebenta numa escala que não há, medindo, ritmada, algo que não houve! Na barriga três cicatrizes fechadas: uma da doença, uma da cura, uma do céu! No pé a lata infantil, numa praia que se teme pois é verde o mar em chamas estivais! Nas costas a cal, viva matando morrendo a pele, nessa hora e meia de puro prazer, entendida pelos homens como pernas femininas nuas, desentendida pelas mulheres, as que renegam a evolução! Mais acima, quase confundindo os ombros com pele que pertence à espinha, uma da fuga, do desepero, num inverno gelado, sangra! E nas pernas, espelhos em cacos de plastico e borracha, cravados em marcas, marcados em espinhos! Cá dentro... cá dentro abertas vivem, como se numa primeira página em branco se desnudasse e despisse a virgindade, em passos que não se deram, em sorrisos não abertos... como se a pura existência das formas saciasse a vida que lá se vai tendo, murmurando, irónica, o primeiro beijo dado na ilegalidade, perscrutando, mantendo em silêncio o que se não diz porque magoa. Mentem os olhos, mentem... e a primeira mão, sabe-se agora, não foi mais do que um tocar e um abrir de fendas pouco seguras em pontos quase abertos, como se abertas permanecessem as portas fechadas. E tudo não passa de um coser a preto agulha, fechando aqui para abrir acolá, sentindo, num só mas longo momento, que todo o palpitar pára!, que esta brecha não mais encerra por ser pequena demais para tanto conteúdo, numa mudança de estados fisicos. Mas assim se vai traindo o coração, já que ele não morreu perante tanta luta desigual e mantém-se e é infiel e faz mentir olhos e bocas, porque se diz o que se não sente e sente-se mas não se diz!...porque magoa.

A caminho do...

Se algum dia me esquecer de ti, repara bem como jaz morto o Sol! Se um dia me perder a lembrança que foste tu quem me tirou da cama quando mais desejei as quatro paredes egoistamente só para mim, procura-me no obituário, pois estará lá escarrapachada a minha fotografia tipo-passe! Se num só dia duvidares que a ti te devo o horizonte, caga em tudo o que é linha que possas pensar fruto dos meus dedos... porque aí não estarei cá, e não sei se voltarei!
Adoro-te*

quarta-feira, junho 01, 2005

Já é dia...

Noticias do fundo II

Pelos olhos, poucas as noticias do fundo!
Vejo mas ofusca, agora, o saber que nem a alma se traduz em leves prantos, poucos torceres de barriga e costas no chão, nulos de gotas salgadas. Se se acumulam até a um qualquer acto que leve ao transbordo, ignoro neste momento! Que se crava e enterra os dentes no coração, o evitar quando assim manda a situação mas o desespero de nem imprimir, JÁ, quando mais ninguém aqui habita neste instante, preencho-me da angústia de tanto desejar esse acto aflito de quem berra a surdos em ventrilocas manifestações orais!
Sinto e manifesto o desprezo de quem não se domina nem controla quaisquer suas vontades amorais. Rebento neste limiar, união do que se sente com o que se transpira, contrapondo, dividindo, separando a razão do alimento feromonal, algo que transcende o que pede a carne, outro algo, visando o movimento do sentimento, que não se reduz, antes se expande, alastrando, percorrendo, revestindo e ensaiando a alma para outro combate interior versus lado-de-fora!
A mim [a nós], a ninguém foi dada a opção, sentenciando em silêncios aquilo que não se pode, que se proíbe!, de sequer suspirar, respirar! Procuro vãmente o libertar das pulsões, veneno que introduz o espasmo... espasmo que morre, envenenado, no leito onde me não deito porque pica rasga prende desfaz, do indicador ao hipótalamo, todo e qualquer vestígio de reacção!
Nestes vagos tiquetaqueares em que o sono não vem porque na traqueia a voz soa afónica, vou-me libertando, do pouco ao muito pouco, de, pelo menos, algo que ainda é traduzido no diminuto léxico que, eu e mais não sei quem, inventámos na busca de um facilitar de comunicação! Mas desejo agora, mais do que qualquer coisa, um manifesto oceânico que vai, sem existir, enchendo as bocas de quem não tem mais nada em que pensar!

Noticias do fundo

"Dá noticias do fundo
como passam teus dias.
Diz se a razão nos chega para viver,
se amor nos serve
amor não dá de comer.
Fico melhor assim
em todo caso vai pensando em mim..."

Ornatos Violeta